Bom, vejamos um artigo denominado "Para viver um longo amor", de Suzana Herculano-Houzel. JC online de 22 de Janeiro de 2009; também publicado na Folha de S. Paulo:
"A neurociência, no entanto, é uma jovem senhora de mais de 150 anos de experiência e com vários conselhos para dar. Se ela hoje sabe que a paixão é um estado particular de intensa ativação do sistema de recompensa associada à visão, presença ou mera ideia da pessoa amada, então manter a paixão consiste em... manter a associação entre a tal pessoa e a ativação do sistema de recompensa. Ou seja: associar prazer ao amor"
A fórmula é a de associar o amor ao prazer. Ora, mas os filósofos não disseram isso, de modo menos grosseiro, lá na Grécia Antiga? E eles tinham uma grande vantagem, além a de serem bons filósofos. Eles sabiam que aquilo que estavam dizendo não era uma sabedoria que o senso comum desconhecia. Eles a enfatizaram, sim, mas não de modo a empobrecer o caso, como no artigo aqui citado. Eles a enfatizaram porque a questão era a de dar combate aos que teimavam em ver suas "filosofias da paixão" como um culto aos prazeres exagerados. Eles aliaram o amor e prazer na medida em que mostrou que o amor é o prazer e, se se quiser, vice versa.
A idéia não era a de enaltecer de maneira reducionista os sentidos. A idéia era a de mostrar que a educação dos sentidos, o que nos faz beber o copo de água na exata medida da nossa sede e, então, obter o verdadeiro prazer, é algo que leva uma vida para se conseguir. Desse modo, não há propriamente uma fórmula para o amor e para a ampliação da duração da paixão. Muito menos há uma maneira de falar da paixão como se pudéssemos mapeá-la em termos comportamentais e, então, criar um conjunto de estímulos regrados que a fizessem se manter. Pois Epicuro estava certo quando lembrou que, para aprender essa sabedoria do ele chamava de hedonismo, que é de saber tirar prazer do mundo, o melhor seria que as pessoas se retirassem para o seu Jardim, e vivessem ali como amigos. Além disso, ele sabia bem o que era a paixão, e ele jamais errou na sua definição. Por definição, paixão não é o que dura.
Por que Epicuro soube falar sobre o assunto com propriedade? Por uma razão específica: não é o casamento ou a vida ou bulas de jogadores de búzios universitários que criam a duração da paixão. Muito menos a filosofia. Nada cria a duração da paixão. A duração da paixão é uma mentira. Só um inexperiente de relações amorosas vê uma paixão durar. O que dura é a potencialização do prazer sexual, a ampliação do companheirismo e o aumento (justificado ou não) da confiança. Esses três elementos agrupados tornam a paixão algo secundário. Pois, no conjunto, se apresentam como mais fortes e poderosos do que a paixão. Chamaria então, este sentimento mais "maduro" de AMOR. Como esses elementos demandam aprendizado, experiência e não experimento somente, os hedonistas de boa estirpe não os viram como possíveis senão em um ambiente, o do tipo do Jardim.
Nesse ambiente, e por meio desse cultivo da filosofia hedonista, o prazer seria cultivado enquanto prazer. Caso eu beba um copo de água e ganhe uma gota a mais do que eu preciso para gostosamente saciar a sede, eu não soube tirar prazer de um pequeno evento. Não tenho capacidade para o hedonismo. Nesse sentido, falta-me sabedoria. É isso que Epicuro quer daquele que vem ao seu Jardim. Isso é o que ele acredita que se pode aprender, e que se pode aprender também para o caso do amor. Ora, a paixão é diferente disso, do que se pode aprender. Ela é um impulso forte, um fogo nas entranhas que, caso não se apague, jamais será reconhecida como paixão. A paixão só é paixão porque acaba. Tem de acabar. O próprio nome já diz: pathos, o que cai sobre você, o que o arrebata. Você sofre paixão, você não atua na paixão. Na paixão, você é passivo, você é pego por ela, e um belo dia, com a sua colaboração, ela se vai. Quem não passou por isso vai ficar na "neuro-militância", mas jamais vai entender o que é a paixão.
Quando casais maduros dizem que estão ainda apaixonados e que até se amam mais do que no início, eles não estão usando a palavra paixão no mesmo sentido que a usufruíram no inicio. Aliás, estão usando a palavra de modo errado. Caso olhassem no dicionário, saberiam que cometeram um erro. Eles estão usufruindo do conjunto tripartite que eu apontei, que é bem mais gostoso e completo que a paixão: sexo bom a caminho de melhorar, companheirismo e confiança. Paixão? Não! Tanto é verdade que os casais que são mais observadores de si mesmos dizem que estão apaixonados, e logo completam: "mas trata-se de uma paixão madura". Eles querem dizer o seguinte: a paixão mesmo, o que chamamos de paixão, foi o que já passou. Pois, se não passa, não é paixão.
Seria mais interessante que as pessoas que querem saber das paixões deixassem os "neuro-militantes" competir com a revista Caras, e isso é certo. Mas, quando quiserem saber mesmo da paixão, por meio de leituras, o melhor e ler coisas lindas e boas sobre o assunto, e isto é o que está na cultura universal com os filósofos, e se não gostar deles, vá aos romancistas, os bons. Machado de Assis, por exemplo. E porque não Ligações perigosas, de Laclos? Ah, mas você se diz "não culto", e quer coisas simples, por isso optou pela "neuro-leitura"? Mas há coisas simples mais úteis. Por exemplo, Júlia. Está nas bancas. É melhor.
Este artigo foi criado por LORD baseando-se em um trabalho acadêmico de autoria do Professor: Paulo Ghiraldelli Jr; Formado em Filosofia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário